Tomar laxante para emagrecer é uma boa estratégia?

Nessa “corrida maluca” em busca do que denomina-se “corpo perfeito” muitas pessoas acabam lançando mão de meios um tanto quanto extremos e totalmente nocivos à saúde…

Recentemente, uma celebridade brasileira fez um desabafo contando que fez uso de laxantes com o intuito de perder peso e isso gerou grande discussão a cerca desse assunto.

Será que o uso de laxantes para perder peso é mesmo uma boa estratégia?

Neste post abordaremos o uso de laxantes com o objetivo de emagrecimento e vamos esclarecer o porque você não deve apelar para esse tipo de “rota” para perder peso.

Finalidade real dos laxantes

Indicados para o tratamento de obstipação intestinal (intestino preso) por pessoas que nascem predispostas a essa condição, os laxantes são em geral medicamentos que acabaram se popularizando amplamente também entre indivíduos que não se enquadram nessa condição, mas que buscam perda de peso rápida, ou que adotam um estilo de vida sedentário e com maus hábitos alimentares.

Considerada a segunda causa mais frequente de visitas ao gastroenterologista, a prisão de ventre é um problema que requer ajuda profissional de nutricionista e/ou médico para prescrever o tipo de dieta e em casos mais severos o tipo de laxante e o tratamento mais adequado ao paciente.

A obstipação consiste em dor ou dificuldade para a passagem das fezes, sensação de evacuação incompleta ou ainda fezes endurecidas. Além dos fatores citados acima, a obstipação intestinal também pode ser provocada pelo uso de alguns remédios, tais como: anestésicos em geral, anti-alérgicos, antiespasmódicos, antidepressivos, entre outros.

Tipos de laxantes

Há vários tipos de laxantes com funções diferentes, que a maioria das pessoas não sabe, e não auxiliam na perda de peso.

São eles:

  • Laxantes que são formulados com o intuito de estimular seu intestino, também chamados de laxantes de contato: óleo de rícino, bisacodil, sene, cáscara sagrada;
  • Laxantes que incluem na fórmula substâncias osmóticas, fazendo com que haja uma absorção de água pelo cólon (porção final do intestino) por meio do processo de osmose e as fezes sejam expelidas mais facilmente: sais de magnésio, fosfatos de sódio e de potássio, lactulose;
  • Laxantes que incluem na fórmula agentes de volume, que adicionam fibras com o intuito de dar volume e expandir o volume fecal: metilcelulose, carboximetilcelulose, psílio, goma adraganta e farelo;
  • Laxantes emolientes, eles amolecem as fezes tornando-as escorregadias, por isso é mais fácil de usar o banheiro: docusato (dioctilsulfossuccinato) de sódio, glicerina e petrolato (parafina) líquida;
  • Laxantes que incluem na fórmula enemas, que envolvem a inserção de fluído no interior do reto (tipo supositório), geralmente para aliviar a prisão de ventre.

Comportamento alimentar, laxantes e a busca pela magreza

A magreza está associada a sucesso, felicidade, atração, controle e estabilidade. Com isso, é criada uma generalização.

Aquelas modelos super magras (a lá victória secrets angel’s) são apresentadas como estereótipos que passam a ser apreciados e desejados. Do outro lado desse “espelho” o excesso de peso torna-se um problema, o emagrecimento o objetivo e a solução ditada é a dieta, e outros comportamentos associados à alimentação.

Esse tipo de imposição de imagem corporal de extrema magreza instaurada pela indústria da dieta e incorporada pela sociedade, prioriza o capital e ignora os danos à saúde.

Dessa maneira, informações deturpadas invadem o universo das mulheres (principalmente, mas não exclusivamente) que buscam, incansavelmente, esse ideal impossível para a maioria delas, visto que existem biótipos diferentes!

Esse combo, “imposição de imagem corporal + informações deturpadas”, acaba levando os indivíduos a comportamentos alimentares extremos e ao desenvolvimento de transtornos alimentares que podem culminar em quadros de anorexia nervosa, bulimia nervosa.

Essas duas circunstâncias são caracterizadas por um padrão de comportamento alimentar gravemente perturbado, com controle doentio do peso corporal, e por distúrbios da percepção do formato corporal (também chamado de distorção da imagem corporal). Basicamente é como se o que você visse no espelho não correspondesse ao que você é de verdade, sendo que a pessoa se enxerga acima do peso mesmo estando, na maioria das vezes abaixo do peso ideal!

Com esse contexto e na busca do peso “ideal” ocorre a utilização de práticas muito perigosas e prejudiciais de controle de peso, tais como: dietas restritivas, atividade física excessiva, vômitos, laxantes e inibidores de apetite.

O uso de laxantes por pessoas que recorrem a essas substâncias com alta frequência na expectativa de perder peso, já que promovem rápido esvaziamento intestinal, tem sido um fator preocupante.

Tal prática pode induzir a inúmeras consequências perigosas, além de poder estar associada a transtornos alimentares como bulimia e anorexia nervosa.

Mas aí você pode se perguntar:

“Então porque que quando eu tomo laxante e peso depois de ir ao banheiro a balança diminui?”

Bom…a única coisa que, de fato, você está perdendo é água! Muito pouca ou nenhuma gordura é perdida com laxantes, o que acontece é que o que você pesa a menos é, simplesmente, referente à água e fezes que você eliminou. Portanto, essa perda de peso ilusória será recuperada tão rapidamente quanto ela foi por água abaixo…

O que o uso de laxantes pode causar?

Primeiramente, devemos deixar claro que a maioria das pessoas que usam laxantes para perda de peso, o fazem para obterem resultados imediatos.

Assim sendo, a administração destes artifícios comprometem a absorção intestinal de nutrientes importantes em nosso corpo, prejudicando o estado nutricional e as funções orgânicas essenciais.

Dessa maneira, o uso de laxativos por tempo prolongado pode levar a um ciclo vicioso, em que as evacuações espontâneas satisfatórias podem não ocorrer e até piorar a prisão de ventre, pois o cólon completamente esvaziado pelo uso de laxantes irá prejudicar o tônus e o peristaltismo (são os movimentos rítmicos e constantes que acontecem no nosso intestino e que naturalmente fazem o bolo fecal “caminhar” ao longo do mesmo).

Além disso, se você toma laxantes por muito tempo pode haver irritação da mucosa do intestino e isso causa todos os tipos de problemas gastrointestinais.

O uso contínuo de laxante quando mal indicado atrapalha a absorção de vitaminas e minerais. Não porque eles vão embora com a água, mas porque a irritação na mucosa do intestino causada pelos laxantes prejudica o trabalho de absorção que algumas células do intestino fazem, especialmente de micronutrientes.

Os laxantes osmóticos podem reduzir a pressão arterial e até mesmo causar danos permanentes aos rins.

Um recente estudo, publicado no periódico Annals of Epimemiology, relacionou o uso de laxantes ao maior risco de câncer colorretal.

O abuso de laxantes, em geral, também pode causar desequilíbrios de eletrólitos e minerais e desidratação, que pode levar a tonturas, desmaios, visão embaçada, e até mesmo à morte!

Alternativas

Uma maneira saudável de iniciar o processo de perda de peso é praticar exercícios e incluir hábitos alimentares saudáveis, tais como:

Portanto, se você está descontente com seu peso ou com seu corpo, procure um nutricionista para que esse profissional possa te orientar no processo de perda de peso de forma saudável, mudando hábitos de forma consistente e permanente.

Não arrisque sua saúde com dietas da moda e com uso indiscriminado de medicamentos!

Referências: 

  1. Souto, S., Ferro-Bucher, J. S. N. Práticas indiscriminadas de dietas de emagrecimento e o desenvolvimento de transtornos alimentares. Rev. Nutr.,  Campinas ,  v. 19, n. 6, p. 693-704, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732006000600006&lng=en&nrm=iso
  2. Revista do Farmacêutico. PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Nº 131 – AGO – SET/2017. Alerta para o uso abusivo de laxantes. Disponível em: http://portal.crfsp.org.br/revista/620-131-revista/9140-revista-do-farmaceutico-131-tecnica-e-pratica-alerta.html
  3. Citronberg J.S.Hardikar S.Phipps A.Figueiredo J.C.Newcomb P. Laxative type in relation to colorectal cancer risk.  Annals of Epidemiology,  28  (10) , pp. 739-741, 2018. Disponível em: https://www.annalsofepidemiology.org/article/S1047-2797(18)30109-1/fulltext
  4. Field, A. E., Camargo, Jr. C. A., Taylor, C. B., Berkey, C. S., Colditz, G. A. Relation of peer and media influences to the development of purging behaviors among preadolescent and adolescent girls. Arch Pediatr Adolesc Méd. 153(11):1184-9, 1999. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10555723.

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