Dieta do HCG: O que é, como fazer e prós e contras
A polêmica dieta do hCG promete perda de peso rápida através de uma alimentação com apenas 500 calorias por dia, acompanhada do uso de doses de HCG (o hormônio que indica a gravidez), administradas por injeções subcutâneas ou cápsulas orais contendo a substância, por um período de até 40 dias.
Apesar dessa dieta estar no alvo das atenções, é importante conhecer os riscos que uma dieta que se baseia em uma rígida restrição calórica e o uso indiscriminado de um hormônio pode trazer à saúde.
Fique atento e saiba tudo sobre a dieta do hCG: como ela funciona, as indicações de uso do hormônio e desvantagens de utilizá-lo em uma dieta que visa o emagrecimento!
O que é o hCG?
A gonadotrofina coriônica humana (hCG) é um hormônio reprodutivo produzido no início da gestação pelas células que formarão a placenta. Durante a gravidez, esse hormônio ajuda a manter a produção de progesterona pelos ovários, e a garantir que a mucosa do útero esteja pronta para acolher o embrião.
A ideia de usar o hCG junto à dieta para emagrecer se baseia na alegação de que o hormônio evitaria a perda de massa magra, os músculos, que são prejudicados em uma dieta baixíssima em calorias. Por isso, induziria o corpo a queima de gordura para compensar o aporte de calorias necessário durante uma suposta gestação.
O hormônio hCG é aprovado pelo Food and Drugs Administration (FDA) dos Estados Unidos e pela brasileira Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), como um medicamento que pode ser prescrito para o tratamento da infertilidade em mulheres e outras doenças, não para a perda de peso.
No entanto, a administração de doses regulares de hCG têm sido indicada por alguns médicos, através de injeções subcutâneas ou o uso oral de cápsulas, gotas e pastilhas associada à uma dieta de até 500 kcal. Muitos destes produtos comercializados como hCG, especialmente no exterior, alegam “restaurar o metabolismo”, corrigir “padrões alimentares anormais” e promover a perda de 9 a 14 quilos em 30 a 40 dias.
No entanto, não há nenhuma evidência científica sólida de que o uso do hormônio seja efetivo no aumento da perda de peso, nem que interfira no metabolismo ou distribuição da gorduras no corpo, muito menos que reduza a fome e os desconfortos causados por uma dieta restritiva.
Além disso, especialistas afirmam que qualquer perda de peso obtida com a prática dessa dieta se dá pelo baixo consumo de calorias: afinal, é impossível não perder peso comendo apenas 1/4 do total de calorias diárias recomendado para uma pessoa saudável, que é de 2000 kcal. A questão é o preço que o organismo paga para isso!
Como funciona a dieta do hCG
A dieta do hCG é praticada por um período de até 40 dias, e se baseia na introdução de doses diárias do hormônio hCG e a restrição drástica das calorias consumidas durante esse período. Para isso, a dieta é dividida em quatro fases:
- Fase 1: a primeira fase dura apenas 2 dias e é iniciado o uso de hormônio uma vez por dia. Nesta fase não são realizadas alterações na dieta e a recomendação é consumir alimentos altamente calóricos e ricos em gorduras, como nozes, castanhas, abacate, frituras, massas e carnes, visando induzir o metabolismo a identificar que o corpo já está “abastecido” de gorduras, e então pode começar a queimá-las.
- Fase 2: na segunda fase começa a restrição calórica para promover a perda de peso. A alimentação passa a se basear no consumo de verduras, legumes e frutas, carnes magras e ovos, sendo que as refeições não devem ultrapassar as 500 kcal diárias. É preciso comer pouco e diversas vezes ao dia por até 40 dias ou até que se alcance o peso desejado.
Para auxiliar a eliminação de toxinas e reduzir o inchaço é necessário ingerir pelo menos 2 litros de água por dia. Outros líquidos como chás, café e suco de limão sem açúcar também estão liberados. Nessa fase, o uso do hCG é mantido com acompanhamento médico.
- Fase 3: na terceira fase, após a perda de peso desejada ou quando os 40 dias praticando a dieta se encerram, a restrição de 500 kcal prossegue por mais 2 dias e o uso do hormônio hCG é interrompido. O objetivo aqui é estabilizar o peso perdido, eliminar o hormônio do organismo e estimular o metabolismo a voltar ao normal.
- Fase 4: na quarta fase, a alimentação adequada deve ser restabelecida. Os alimentos que haviam sido deixados de lado devem ser reinseridos na rotina gradualmente, assim como a quantidade de comida consumida durante as refeições.
Assim, a dieta deve voltar a ser variada e equilibrada incluindo alimentos como os cereais integrais (arroz integral, quinoa e milho), fontes de proteína animal (carnes magras, frango, peixes, ovos, leites e derivados), proteínas vegetais (feijão, grão-de-bico, ervilha, lentilha) e alimentos ricos em gorduras boas (azeite, abacate, amêndoas, nozes, castanhas).
Para que os quilos perdidos não voltem nessa fase é preciso evitar alimentos que contenham amido e açúcar, dentre eles: doces, massas, pães brancos e farinha de trigo refinada, frituras e refrigerantes. Enquanto isso, os alimentos ricos em carboidratos, como a batata, a batata doce, a mandioca, as massas integrais e o pão integral devem retornar à dieta aos poucos.
Vantagens e desvantagens desta dieta para emagrecimento
Um estudo realizado com 40 mulheres obesas que adotaram dietas idênticas e receberam doses de hCG em 6 dias da semana avaliou o perfil psicológico, nível de fome, circunferências de corpo, amostras de sangue, registros de alimentos e peso corporal de cada uma das participantes.
Os resultados demonstram que a perda de peso obtida por estas mulheres foi semelhante a esperada em qualquer dieta restritiva.
De acordo com a ciência, não é possível afirmar que o hormônio hCG exerça qualquer papel no processo de emagrecimento e na prevenção da obesidade, apesar de muitos médicos estarem prescrevendo o hormônio para este fim de maneira off-label, sem levar em conta as indicações reais previstas para a prescrição da substância.
Além disso, passar um longo período se alimentando de apenas 500 kcal por dia não é nada saudável e aumenta o risco de efeitos colaterais que incluem a formação de cálculos biliares, desequilíbrio nos eletrólitos que mantêm os músculos e nervos do corpo funcionando adequadamente e um batimento cardíaco irregular.
A nutricionista Shirley Blakely, do Centro de Segurança Alimentar e Nutrição Aplicada do FDA, afirma que as dietas restritivas podem ser perigosas e potencialmente fatais. Apesar de muitos médicos indicarem dietas de baixíssimas calorias como parte do tratamento médico de pessoas obesas, pessoas que praticam uma alimentação restritiva sem supervisão médica, podem não estar obtendo vitaminas, minerais e a maioria das proteínas essenciais para o corpo.
A especialista ainda explica que “Em geral, o nível de referência de calorias é de 2.000 por dia e para perder peso de forma saudável é possível reduzir 500 calorias da ingestão diária, o que equivale a 3.500 calorias ao longo de uma semana, e significa perder 453 gramas. A perda de peso gradual é o caminho certo para o emagrecimento!”
Benefícios do uso do HCG
A forma injetável de hCG, vendida com receita médica, é aprovada como tratamento da infertilidade feminina, criptorquidismo, condição em que o testículo não desce para o saco escrotal, hipogonadismo hipogonadotrófico, doença rara que prejudica a produção de níveis adequados dos principais hormônios sexuais, e para a puberdade tardia em meninos adolescentes.
Não há estudos que comprovem os benefícios para o uso do hormônio hCG para promover a perda de peso ou qualquer outro objetivo, além destes, em pessoas saudáveis.
Riscos de utilizar HCG na dieta
O hCG é classificado como “categoria X” pela FDA, significando que pode causar malformações fetais e representar um fator de risco para pessoas com alguns tipos de câncer relacionados aos hormônios, como próstata, endométrio, mama e ovário.
Pelo mesmo motivo, testes adicionais devem ser realizados para garantir a segurança do uso de hCG por portadores de distúrbios da tireoide ou glândula adrenal, cistos ovarianos, hemorragia uterina, doença cardíaca, epilepsia, enxaqueca ou asma, podendo causar agravos se utilizados por estas pessoas.
Os efeitos colaterais do uso contínuo de injeções de hCG incluem ainda: dores de cabeça, irritabilidade, depressão e formação de coágulos de sangue, que podem provocar tromboembolismos nas artérias e veias.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da
Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) se posicionaram contra a utilização de hCG com a finalidade de emagrecimento, considerando que tal conduta não apresenta evidências científicas de eficácia e contém potenciais riscos para a saúde.
Como fazer a dieta do HCG
Para fazer a dieta do hCG é importante, antes de mais nada, verificar se não há nenhuma doença ou condição que possa ser agravada com o uso deste hormônio através de exames e testes clínicos especializados. Um médico de confiança deverá ser consultado e acompanhá-lo durante todo o período da dieta, para identificar a reação do organismo e surgimento de possíveis efeitos colaterais.
A restrição calórica proposta pela fase 2 da dieta, que de acordo com estudos, é o que de fato promove a perda de peso, deve ser realizada com o apoio de um nutricionista que pode elaborar um cardápio que contenha minimamente os nutrientes necessários à manutenção da saúde em um aporte calórico de até 500 kcal por dia.
É importante estar atento aos alimentos permitidos e proibidos nos 40 dias da fase 2 e 48 horas de adaptação à suspensão do uso do hormônio na fase 3, quando será realizada a restrição calórica:
- Alimentos permitidos: verduras, frutas e legumes, carnes magras, ovos, laticínios desnatados, alimentos integrais e líquidos como qualquer tipo de chá, café e sucos sem açúcar.
- Alimentos proibidos: doces, frituras, massas, pães, bolos e biscoitos elaborados com farinhas refinadas, óleo no preparo das refeições e açúcar nas bebidas.
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Essa dieta não deve ultrapassar os 40 dias, sabendo que os riscos se agravam quando a mesma é mantida por mais tempo. Durante a retomada da dieta normal é importante que os alimentos voltem a ser consumidos lentamente e em porções pequenas para não desequilibrar o metabolismo, que após um longo período de restrição pode estimular o armazenamento de gordura, levando ao efeito sanfona.
Cardápios
Confira um cardápio de 7 dias para a fase 2 da dieta do hCG:
- Domingo:
– Café da manhã: 1 pão sírio com creme de ricota + 1 xícara de chá verde
– Almoço/ Jantar: 1 filé mignon pequeno grelhado + 1 prato raso de alface lisa com rabanete, tomate e cebola roxa picada
– Lanche da tarde: 1 pote pequeno de iogurte desnatado com kiwi picado
- Segunda-feira:
– Café da manhã: 2 biscoitos água e sal + 1 copo (200 ml) de suco de abacaxi sem açúcar
– Almoço/ Jantar: 1 bife pequeno de patinho grelhado + 1 prato raso de agrião, alface roxa e tomate cereja temperados com limão.
– Lanche da tarde: 1 copo (200 ml) de leite desnatado batido com banana e mamão
- Terça-feira:
– Café da manhã: 1 torrada integral + 1 ponta de faca de queijo cottage + 1 copo de água de coco batida com maçã e hortelã
– Almoço/ Jantar: 1 filé de frango pequeno + 1 colher de sopa de cenoura com vagem cozidos e picados
– Lanche da tarde: 1 fatia de melão
- Quarta-feira:
– Café da manhã: 1 copo de leite de amêndoas + 4 morangos picados
– Almoço/ Jantar: 2 colheres de sopa de carne moída com abóbora + 1 prato raso de rúcula com beterraba ralada
– Lanche da tarde: 1 biscoito integral 100% cacau
- Quinta-feira:
– Café da manhã: 1 panqueca de banana com aveia + 1 xícara de chá de erva doce
– Almoço/ Jantar: 1 posta pequena de cação com leite de coco + 1 prato raso de acelga com manga e chia
– Lanche da tarde: 6 uvas sem caroço
- Sexta-feira:
– Café da manhã: 1 omelete com queijo branco, tomilho e alecrim + 1 xícara de café
– Almoço/ Jantar: 1 prato raso de salada de alface mimosa com atum, mussarela de búfala, nozes e damasco seco
– Lanche da tarde: 1 pera
- Sábado:
– Café da manhã: 1 tapioca com coco ralado + 1 copo (200 ml) de suco de melancia com gengibre
– Almoço/ Jantar: 1 pedaço pequeno de frango cozido com abobrinha e tomate + 2 colheres de sopa arroz de couve-flor
– Lanche da tarde: 1 laranja
Para fazer a dieta do hCG é essencial consultar um médico para verificar se você tem condições clínicas para tomar doses do hormônio por um período contínuo e procurar uma nutricionista para planejar uma dieta de restrição calórica que contenha boa parte dos nutrientes necessários para o alcance dos seus objetivos e manutenção da saúde.
Falando em formas de emagrecer, o jejum intermitente é uma estratégia nutricional, que quando bem planejada, pode promover a perda de peso, eliminação de gordura e proporcionar outros benefícios à saúde. Confira!
Lembre-se que uma dieta de restrição calórica nunca deve ser iniciada sem antes consultar o seu médico ou nutricionista. A introdução do uso de qualquer hormônio, inclusive o hCG, necessita de exames e testes clínicos que garantam a sua segurança, já que estas substâncias podem causar graves efeitos colaterais.
O processo de emagrecimento saudável, independente das estratégias médicas e dietéticas que o compõe, deve ser acompanhado por profissionais de saúde qualificados e estar baseado na prática de uma alimentação equilibrada e atividade física regular, respeitando as particularidades clínicas de cada pessoa.
Referências:
- Revista Istoé >Home >Medicina e bem-estar >A polêmica dieta do hormônio da gravidez. Autora: Mônica Tarantino. Postado em 03/10/14. Atualizado em 21/01/2016. Editora Três. Disponível em: https://istoe.com.br/385608_A+POLEMICA+DIETA+DO+HORMONIO+DA+GRAVIDEZ/
- Food and Drugs Administration (FDA) U.S. >Home >For Consumers >Consumers Update >En espanhol: Los productos a base de coriónica humana para adelgazar son ilegales. Postado em 22/03/2018. Disponível em: https://www.fda.gov/ForConsumers/ConsumerUpdates/ucm430139.htm
- Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e Associação Brasileira de Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO). Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) em relação à utilização da Gonadotrofina Coriônica Humana (hCG) para tratamento da obesidade. Autores: Dr. Alexandre Hohl e Cíntia Cercato. Disponível em: https://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/posicionamento_oficial_hcg_sbem_e_abeso.pdf
- Conselho Regional de Medicina do Mato Grosso do Sul, Brasil. Parecer técnico 20/2012. Assunto: Uso de hCG e obesidade. Parecerista: Cons. Rosana Leite de Melo. Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/pareceres/crmms/pareceres/2013/4_2013.pdf
- Thellesen L, Jørgensen L, Regeur JV, Løkkegaard E. [Serious complications to a weight loss programme with
HCG.]. Ugeskr Laeger. 2014 Jul 21;176(30). Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/266628060_Serious_complications_to_a_weight_loss_programme_with_HCG