A alimentação nos primeiros 1000 dias do bebê

Mães, pais, tias, tios, avós e todos que se interessam pelo universo infantil: vamos conversar sobre a alimentação das crianças?

Desde os primeiros dias do recém nascido, já nos vemos preocupados como vai ser a nutrição do bebê. “Será que o neném vai sugar o leite?”, “Será que a “pega” está correta?”, “Será que meu leite é suficiente?”.

Essas e muitas outras questões surgem em nossas cabeças. As dúvidas são inúmeras, afinal, é uma nova pessoa (bem pequenininha) e importantíssima no seu mundo! Ela chegou e é totalmente dependente de afeto, cuidados e de uma boa alimentação. Por isso é muito necessário que nós saibamos como oferecer a melhor nutrição possível nos primeiros 1000 dias do bebê.

Os primeiros 1000 dias

Os primeiros mil dias são aqueles que correspondem ao período entre o dia da concepção até o segundo ano do bebê. Os benefícios obtidos através de uma alimentação adequada serão levados até a fase adulta, por isso esse período na vida do bebê é de extrema importância. Devemos ficar atentos pois, mesmo com as crianças que têm condições de realizar uma alimentação adequada, pode ocorrer uma dificuldade ao se alimentarem.

Isso ocorre porque essas crianças não estão passando por estimulação correta ou suficiente. As estimulações oromotora, de linguagem e sensoriais são extremamente importantes, pois contribuem para o desenvolvimento cerebral. Especialmente a oromotora, exercitando os músculos faciais (através da amamentação e/ou oferecimento de alimentos sólidos quando for o momento certo), contribui para a sucção do leite, mastigação e deglutição. Por isso, ela é importante não só para a alimentação adequada das crianças, mas também para o processo de fala.

Aleitamento Materno

A mãe:

O aleitamento materno não diz respeito somente a alimentação. Nesse aspecto já é extremamente rico, no entanto, a amamentação é sempre marcada por momentos de vínculo e afeto. O processo de aleitamento precisa ser enxergado de maneira ampla. Não se deve tratar somente com um olhar voltado para o ato de alimentar o bebê, mas deve-se também prestar muita atenção na mãe.

A mulher precisa estar segura, acolhida, precisa ser ouvida e compreendida. Todo o apoio possível deve ser dado à mãe nesse momento. Os aspectos emocionais da nutriz (mulher que amamenta), precisam estar em harmonia com o corpo. Se houver dificuldades, estas precisam ser esclarecidas para que a amamentação ocorra de forma plena.

Formas de Aleitamento:

O Ministério da Saúde, em seus Cadernos de Atenção Básica à Saúde da Criança, discorre sobre as diversas formas existentes de aleitamento. Vamos entender melhor a seguir:

  • Aleitamento materno exclusivo – Ocorre quando a criança recebe somente leite materno, direto do peito ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte. Sem inclusão de outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos, quando necessários.
  • Aleitamento materno predominante – Quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água, sucos de frutas e fluidos rituais (poções, líquidos ou misturas utilizadas em ritos místicos ou religiosos).
  • Aleitamento materno – A criança recebe leite materno, direto da mama ou ordenhado, independentemente de receber ou não outros alimentos.
  • Aleitamento materno complementado – Além do leite materno, a criança recebe qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo.
  • Aleitamento materno misto ou parcial – Leite materno + outros tipos de leite.

Benefícios e Cuidados

A Organização Mundial da saúde, recomenda a amamentação até que a criança complete 2 anos ou mais. Porém é indispensável que a o aleitamento materno seja exclusivo nos primeiros seis meses de vida.

Antes do bebê completar seis meses, não se deve introduzir outros alimentos. O ato de oferecer alimentos complementares não deve ser feito, pois pode ocasionar diarreia ou até mesmo doenças respiratórias que podem levar a hospitalização.

Diversos prejuízos à saúde da criança estão relacionados a introdução precoce de alimentos. Pode ser que esse fato também ocasione menor absorção de nutrientes importantes do leite materno, como o ferro e o zinco e menor eficácia da amamentação como método anticoncepcional.

Por outro lado, amamentar em livre demanda, ou seja, oferecer o peito sem restrições de horários e de tempo de permanência na mama, traz à criança inúmeros benefícios.

Mesmo quando a criança completa dois anos, o leite materno ainda é fonte de nutrientes. O documento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, destaca que aproximadamente dois copos de leite materno contribuem com 95% das necessidades de vitamina C, 45% das de vitamina A, 38% das de proteína e 31% do total de energia. Além disso, o leite materno continua protegendo contra doenças infecciosas, mesmo após os 2 anos.

MITO!

Muitas pessoas se perguntam se o leite é “pouco” ou não satisfaz o bebê. O leite materno não é insuficiente ou “fraco” em nenhum modo. As mães são completamente competentes fisiologicamente para produzir leite suficiente aos seus filhos. Quanto mais estímulo de sucção houver, maior será a produção.

É importante que este assunto seja desmistificado, pois algumas mães acabam introduzindo alimentos precocemente por não acreditarem na capacidade de nutrição do seu leite. Lembrando sempre que não só a nutrição é importante nesse processo, mas sim todo vínculo envolvido entre mãe e filho.

Caso tenha alguma dúvida ou dificuldade, procure um profissional de saúde apto para te ajudar neste processo tão incrível e necessário que é a amamentação!

Alimentação Complementar

Os alimentos complementares são aqueles que são servidos ao bebê em complemento ao leite materno, somente a partir do sexto mês de vida.

A alimentação complementar deve ser oferecida em horários em que a família costuma fazer as refeições, em intervalos regulares, respeitando sempre o apetite da criança.

São chamados de alimentos de transição aqueles alimentos complementares que são preparados especialmente para a alimentação do bebê. A introdução destes alimentos deve respeitar a cultura da região, valorizando os produzidos no local de moradia da família.

Após completar 6 meses de vida, o bebê já está fisiologicamente preparado para ingerir novos alimentos e estes podem ser semissólidos. Nessa fase, a criança também desenvolve a capacidade de sentar-se, o que facilita o ato de alimentar.

No entanto, a amamentação pode e deve seguir como já conversamos nos tópicos acima!

A alimentação da criança deverá conter quantidades suficientes de água, carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, com variedade e higienização adequadas. É uma estratégia interessante que os alimentos sejam oferecidos com uma colher ou xícara. Pois, evitar a mamadeira é importante para que a sucção no peito não seja prejudicada.

Nesta fase, o ideal é que seja oferecido o leite materno, papinha de frutas e papa salgada. A papinha salgada deve ser entendida como papinha de vegetais com carne em consistência de purê. Ao completar 7 meses pode-se introduzir a segunda papinha salgada, como um jantar.

A partir dos 8 meses

… A criança já pode começar a se alimentar da mesma maneira que a família. Poderá ser oferecida a mesma alimentação, desde que nas preparações não haja temperos picantes e alimentos industrializados. É muito importante lembrar que os alimentos devem ser preparados com pouco sal e oferecidos amassados, desfiados, triturados ou picados em pedaços pequenos.

1 ANO

O bebê completou 12 meses de idade. A partir desse momento já se recomenda que a criança tenha três principais refeições no seu dia: o café da manhã, o almoço e o jantar e dois lanches (frutas ou cereais ou tubérculos). Vamos ver um exemplo de planejamento para alimentação do bebê nessa fase:

  • Café da manhã: leite materno;
  • Lanchinho da manhã: fruta;
  • Almoço: refeição da família;
  • Lanche da tarde: fruta ou pão simples ou cereal ou tubérculo;
  • Jantar: refeição da família.

A importância dos primeiros 2 anos

Uma alimentação adequada nos primeiros mil dias de vida da criança já se inicia na gravidez. É importante que a mãe se preocupe com sua alimentação desde a gestação, pois tudo que é ingerido é compartilhado com o bebê. Após o nascimento, o aleitamento é a maneira mais apropriada para nutrir os primeiros meses da criança e fortalecer o afeto entre a mãe e o filho.

Algumas pesquisas afirmam que o aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses, contribui para o desenvolvimento e o desempenho intelectual da criança, e ainda protege reduzindo os riscos de doenças crônicas no futuro. Depois dos seis meses de amamentação exclusiva, segue-se para a introdução dos alimentos. Sempre favorecendo as preparações caseiras e saudáveis.

A importância de uma alimentação adequada e balanceada nessa fase inicial da vida é tão grande, que pode influenciar os hábitos alimentares de sua fase adulta.

Conclusão: focar em uma nutrição adequada nos primeiros mil dias é essencial para a saúde da criança e pode aumentar muito as chances dela ter uma vida saudável no futuro!

Referências:

  1. Ledo Alves da Cunha, Antonio Jose, Álvaro Jorge Madeiro Leite, e Isabela Saraiva de Almeida. “Atuação do pediatra nos primeiros mil dias da criança: a busca pela nutrição e desenvolvimento saudáveis.” Jornal de Pediatria 91.1 (2015). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572015000800006&lang=pt
  2. Ministério da Saúde. “Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos: um guia para o profissional da saúde na atenção básica.” (2013). Disponível em: http://www.redeblh.fiocruz.br/media/10palimsa_guia13.pdf
  3. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
    “Saúde da criança : aleitamento materno e alimentação complementar.” (2015). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_materno_cab23.pdf

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