Super Clube Fit

Bulimia: O que é, sintomas e tratamento

O culto ao “corpo perfeito” estimulado pela mídia através das revistas, outdoors, novelas, filmes e redes sociais e o peso que a sociedade coloca sobre esse padrão de beleza irreal como algo necessário para ser valorizado, provocou um aumento na insatisfação com a imagem corporal e, consequentemente, têm aumentado os casos de desordens do comportamento alimentar como a anorexia e a bulimia nervosa.

Neste post vamos te explicar o que é a bulimia nervosa, seus sintomas e como tratar esse transtorno alimentar que pode trazer várias consequências graves para a saúde e o bem estar!

O que é bulimia?

O termo bulimia nervosa foi criado em 1979 pelo médico Gerard Russell em Londres, a partir da descrição de pacientes com peso normal ou pouco acima do peso, que apresentavam episódios de descontrole na ingestão de alimentos e vômitos autoinduzidos. 

A palavra vem da união dos termos gregos boul (boi) ou bou (grande quantidade) com lemos (fome), ou seja, uma fome muito intensa ou suficiente para devorar um boi.

A bulimia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por uma rápida e grande ingestão de alimentos com sensação de perda de controle, seguida pela utilização de métodos inadequados para compensar os episódios de compulsão e controlar o peso, como o vômito autoinduzido, o uso de laxantes e a prática de dietas restritivas e de exercícios físicos intensos.

Quem desenvolve bulimia apresenta uma excessiva preocupação em relação ao corpo e suas formas, e então começa a restringir alimentos que poderiam causar o ganho de peso, mas sem a obstinação comum àqueles que apresentam anorexia, que provoca o medo de engordar e com isso, uma ingestão calórica cada vez mais baixa e um emagrecimento intenso.

Com as mudanças nos hábitos alimentares, a fome da pessoa bulímica vai se tornando desenfreada e faz com que ela consuma grandes quantidades de alimentos rapidamente e sem critério. O sentimento de culpa pelo descontrole e mal estar físico pela quantidade de alimentos ingeridos induz a ideia de vômito para evitar o ganho de peso, o que traz a sensação de alívio e satisfação momentâneos. Então a restrição alimentar aumenta, facilitando novos episódios bulímicos e a piora do vômito, da ansiedade e a baixa autoestima, o que estabelece um ciclo vicioso, que mantêm a doença e a agrava cada vez mais.

A comida é utilizada pelo paciente com bulimia para satisfazer outras necessidades que não a fome fisiológica e assim, o alimento passa a funcionar como uma compensação.

Sintomas da bulimia

Identificar a bulimia não é uma tarefa fácil, já que os sintomas nem sempre são claros, além do mais, uma pessoa com este transtorno alimentar pode ser magra, obesa ou ter peso normal. No entanto, é possível observar alguns comportamentos comuns às pessoas que a desenvolvem, como:

Ainda, os sintomas de bulimia são descritos em detalhes por sistemas de classificação que possibilitam a identificação adequada da doença. Confira!

Critérios diagnósticos estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais:

1. Episódios recorrentes de consumo alimentar compulsivo (episódios bulímicos) com as seguintes características:

2. Comportamentos compensatórios inapropriados para prevenir ganho de peso, como vômito autoinduzido, abuso de laxantes, diuréticos ou outras drogas, dieta restrita ou jejum ou exercícios vigorosos.
3. Episódios bulímicos e comportamentos compensatórios ocorrem, em média, 2 vezes por semana por, pelo menos, 3 meses.
4. Autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporal.
5. O distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa.

Quando diagnosticada, a bulimia pode apresentar dois principais tipos:

Critérios estabelecidos pelo Código Internacional de Doenças:

1. Preocupação persistente com o comer e forte desejo ou sentimento de compulsão por comer.
2. Paciente tenta neutralizar efeitos de “engordar” dos alimentos por meio de vômitos autoinduzidos, períodos de alternação de inanição, quando a pessoa se encontra enfraquecida pelo consumo insuficiente de alimentos e uso de drogas. Em pacientes diabéticos, pode haver negligência ao tratamento insulínico.
3. Autopercepção de que se está muito gordo, com pavor intenso de engordar e com prática de exercícios excessivos ou de jejuns. Paciente coloca para si mesmo um limiar de peso nitidamente definido, bem abaixo de seu peso anterior à doença, que constitui o peso ótimo na opinião do médico. Há, frequentemente, mas não sempre, histórico de episódio de anorexia nervosa, expresso ou atenuado, com perda de peso moderada e/ou fase transitória de amenorreia, a ausência de menstruação.

As complicações clínicas mais comuns do paciente com bulimia são a formação de calos no dorso da mão, pela lesão da pele com os dentes (sinal de Russel) ao inserir os dedos na boca para vomitar, a erosão do esmalte dentário (em função dos vômitos), a irregularidade menstrual e a desidratação.

Doenças psíquicas como a depressão, ansiedade e o abuso de substâncias também podem estar relacionadas com a bulimia.

Tratamentos para bulimia

As causas da bulimia podem ser desencadeadas por diversos fatores como a predisposição genética, sociocultural e a vulnerabilidade biológica e psicológica. Além disso, questões familiares com vínculos disfuncionais, que ocorrem quando partes do grupo familiar cometem abusos na relação afetiva também causam problemas emocionais, que podem impactar de forma negativa o comportamento alimentar.

Por isso, o tratamento tem por objetivo a completa reabilitação do paciente nos aspectos clínicos, nutricionais e psicológicos, e o trabalho em equipe multidisciplinar com estrutura básica formada por médicos psiquiatra e clínico geral ou nutrólogo, nutricionista e psicólogo é reconhecido como a forma mais adequada de acompanhamento.

O psicólogo trabalha juntamente com a família, atuando no esclarecimento de dúvidas relacionadas ao transtorno, como a forma de evolução, quais sintomas e, até mesmo, na desconstrução de histórias negativas relacionadas ao transtorno, que podem prejudicar o sucesso do tratamento.

Uma abordagem muito utilizada no tratamento de transtornos alimentares como a bulimia nervosa é a terapia cognitivo-comportamental, que visa a identificação e correção das condições que favorecem o desenvolvimento das alterações cognitivas e comportamentais que sustentam o distúrbio alimentar e é reconhecida como uma estratégia eficiente na melhora desse quadro.

Enquanto isso, o nutricionista tem o papel de propor modificações do consumo, padrão e comportamento alimentares, profundamente alterados na bulimia. A terapia nutricional é dividida em duas etapas: educacional e experimental e seus objetivos na bulimia nervosa são: diminuir as compulsões, minimizar as restrições alimentares, estabelecer um padrão regular de refeições, incrementar a variedade de alimentos consumidos, corrigir deficiências nutricionais e estabelecer práticas de alimentação saudável.

Os serviços especializados para o tratamento podem ser encontrados em unidades de clínica médica, pediátrica e psiquiátrica, e as modalidades de seguimento dependerão da avaliação das condições clínicas, psiquiátricas e de apoio familiar e variam entre atendimento ambulatorial, hospital-dia e internação integral.

Se o tratamento da bulimia nervosa não se inicia de forma precoce, o curso é prolongado, com prejuízos físicos e psicológicos, além de elevada taxa de mortalidade.

Para solicitar ajuda com o tratamento de transtornos alimentares como a bulimia e a anorexia você pode entrar em contato com o Programa de Transtornos Alimentares – AMBULIM do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo através do site ou procurar os locais que oferecem tratamento em todo o Brasil divulgados pelo GENTA – Grupo Especializado em Nutrição, Transtornos Alimentares e Obesidade.

Lembre-se que o diagnóstico de qualquer transtorno psíquico, incluindo a bulimia nervosa, só pode ser realizado pelo médico psiquiatra ou psicólogo e o tratamento deve ser realizado pela equipe multiprofissional a partir de uma análise individualizada da história clínica, hábitos alimentares e aspectos sócio-econômicos e culturais de cada paciente.

Referências:

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: obesidade. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 212 p. – (Cadernos de Atenção Básica, n. 38). Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_38.pdf
  2. Cordás, T.A. Transtornos alimentares: classificação e diagnóstico. Artigo original, Rev. Psiq. Clin. 31 (4); 154-157, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v31n4/22398.pdf
  3. Pessa, R.P.; Souza, A.P.L. Tratamento dos transtornos alimentares: fatores associados ao abandono. Artigo original, J Bras Psiquiatr. 2016;65(1):60-7. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v65n1/0047-2085-jbpsiq-65-1-0060.pdf
  4. Diniz, N.O.; Lima, D.M.A. A atuação do psicólogo no atendimento a pacientes com transtorno alimentar de
    bulimia nervosa. Rev. Humanidades, Fortaleza, v. 32, n. 2, p. 214-222, jul./dez. 2017. Disponível em: http://periodicos.unifor.br/rh/article/view/7478/5549
  5. Latterza, A.R.; Dunker, K.L.L.; Scagliusi, F.B.; Kemen, E. Tratamento nutricional dos transtornos
    alimentares. Artigo original, Rev. Psiq. Clin. 31 (4); 173-176, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v31n4/22404.pdf
  6. Cobelo, A.W.; Saikali, M.O.; Schomer, E.Z. A abordagem familiar no tratamento da
    anorexia e bulimia nervosa. Artigo original, Rev. Psiq. Clin. 31 (4); 184-187, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v31n4/22406.pdf